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Desperdício de vacinas no Brasil: Saúde indo para o lixo

Seringa apoiada em frascos de imunizantes

Desperdício de vacinas no Brasil: 05 pontos indispensáveis para evitar perda de insumos

As vacinas perdem eficácia quanto maior o tempo fora de sua temperatura ideal, seja pelo excesso de calor, luminosidade ou frio.  Esse é um dos motivos do desperdício de vacinas no Brasil, que prejudica a população e os caixas de instituições públicas e privadas. Veja os detalhes, dados preocupantes e soluções para vencer as dificuldades.

A cada dez cidades, quatro têm falhas nas condições de conservação dos imunizantes contra a covid-19. É um exemplo do desperdício de vacinas no Brasil, uma realidade que não surgiu no ano passado. A pandemia só deixou claro que não é possível mais adiar mudanças e melhorias na logística de distribuição. Confira os detalhes e as soluções nos próximos parágrafos.

 

Motivos e preocupações

Em geral, os motivos para a perda de vacinas costumam ser: manuseio inadequado de insumos e frascos; deterioração; vazamento; perda de eficácia devido às alterações no armazenamento e transporte. Além das consequências prejudiciais à saúde de todos, o desperdício de vacinas no Brasil sai caro para os transportadores desse setor.

Distribuir doses das vacinas é muito mais complexo do que simplesmente encaixotar os frascos e colocá-los em um caminhão ou avião. Do momento em que um imunizante sai do fabricante até ser administrado no paciente, deve ser mantido em condições adequadas e altamente específicas.

Números do desperdício de vacinas no Brasil

Em Minas Gerais, 12 mil doses de vacina contra a covid-19 foram perdidas por razões como falta de energia elétrica, falhas em equipamentos e no transporte. O levantamento é da Secretaria Estadual de Saúde (SES).

“Esse número é muito alto. O que está acontecendo, possivelmente, é a falta de preparo técnico para lidar com as vacinas, disse o médico Estevão Urbano, integrante do Comitê de Combate à Covid-19 em Belo Horizonte.

Falar sobre o desperdício de vacinas no Brasil é citar as deficiências em infraestrutura. É o que mostra estudo feito pelo Instituto Locomotiva em parceria com o grupo Unidos pela Vacina, no qual gestores de saúde de 5.569 municípios foram consultados.

Segundo a pesquisa, quatro em cada dez cidades brasileiras têm falhas neste sentido. A falta de geladeiras apropriadas foi apontada como o maior problema na implementação do Programa Nacional de Imunização (PNI) no combate à pandemia do novo coronavírus.

Outro exemplo do desperdício de vacinas aconteceu em Amparo (SP), em que várias doses contra a Covid-19 foram perdidas devido a falhas no processo de transporte e armazenamento. A situação foi analisada pelo diretor da Inframetro, Alexandre Lira:

 

 

Estatística do desperdício de imunizantes

Uma investigação sobre as taxas de perda e utilização de doses de vacinas (frascos multidose e monodose) na Região Metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, traz dados sobre o cenário brasileiro fora da pandemia.

Resultado da pesquisa: das nove vacinas estudadas, o desperdício médio foi de 962.013 doses, que representaram aproximadamente R$ 3,5 milhões. Os custos com o desperdício (44,7%) comprometem recursos públicos que poderiam ser aplicados na recuperação do sistema de saúde.

Para as vacinas de apresentação multidose, o desperdício médio (R$1.079.143) foi quatro vezes maior que o aceitável (R$ 269.785,00). Já para as vacinas de frascos monodose (R$ 1.298.159,00), foi vinte vezes maior (R$ 64.908,00), revelou o estudo publicado na revista eletrônica da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS).

O levantamento do período de 2015 a 2017 tomou como base o Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) e o Sistema de Informação de Insumos Estratégicos (SIES).

RDC 430: Boas práticas de segurança para as vacinas

Neste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) deu um passo importante  para assegurar a manutenção da qualidade de produtos da Saúde: a RDC 430/2020 entrou em vigor.

A Resolução padroniza as regras de boas práticas aplicadas às empresas que distribuem, armazenam e transportam medicamentos. Ela viabiliza, por exemplo, o máximo de eficácia das vacinas que chegam em comunidades ribeirinhas e/ou aldeias indígenas, distantes da rota rodoviária. Isto é, ela preza pelo ciclo da cadeia fria.

Com a RDC 430, operadores logísticos devem manter um Sistema de Gestão da Qualidade ativo, autoinspeções periódicas, checagem para descobrir as origens de possíveis falhas e mitigar seus efeitos, principalmente no manejo de medicamentos termossensíveis.

E mais: determina que haja monitoramento e controle das condições de temperatura, acondicionamento, armazenagem e umidade de medicamentos e produtos termolábeis. O que deve ser feito pelas empresas em questão por meio de instrumentos calibrados e localizados nos pontos críticos dos ambientes.

5 Pontos indispensáveis para evitar desperdício de vacinas no Brasil

Em regime de urgência, a rede de frio brasileira foi adaptada para viabilizar o armazenamento e a distribuição dos imunizantes contra o Sars-CoV-2. Isso em dezenas de milhares de Unidades Básicas de Saúde (UBS), nos mais diversos cantos, com as mais variadas circunstâncias de funcionamento.

Um desafio e tanto considerando as salas de vacinação espalhadas por um território de dimensões continentais – e predominante clima tropical, quente e úmido. É uma cadeia extensa e, sem dúvida, não faltam obstáculos e imprevistos, especialmente em termos técnicos, para manter temperaturas baixas ao longo dela.

Nesse sentido, 5 pontos são indispensáveis. Confira:

1. Transporte

O transporte de medicamentos não é uma tarefa fácil, pela quantidade de pontos de transferência da fábrica aos destinos finais, os locais de administração. As vacinas costumam viajar de caminhão e avião, com paradas e armazenamento em uma distribuidora antes de chegar ao terminal, onde voltam para a câmara frigorífica.

No último quilômetro até o posto de saúde, clínica ou hospital, os imunizantes podem ser entregues para uma cidade próxima de van. Dependendo da origem/destino e do volume, podem ser transportados em via aquática, como ocorre com os imunobiológicos do PNI.

O critério de facilidade da via também conta. O importante nesse fluxo é o controle de temperatura e outros aspectos capazes de comprometer as características do produto, evitando o desperdício de vacinas no Brasil.

2. Armazenamento 

Na maior parte dos casos, a melhor opção de armazenamento é uma unidade de refrigeração criada exclusivamente para acomodar as vacinas. São equipamentos que chegam a custar mais de US$ 15.000,00, ao contrário do freezer comum, aquele no qual guardamos sorvetes. Existem ainda os coolers portáteis especiais.

A embalagem é um dos elementos determinantes na rede de frio, seja na quantificação, preservação ou proteção dos fármacos. Portanto, é igualmente relevante contar com profissionais especialistas em recipientes para os imunobiológicos. Afinal, as escolhas impactam a logística e os planos de dimensionamento para armazenamento, distribuição e transporte.

3. Monitoramento da temperatura: desafio que influencia o desperdício de vacinas do Brasil

O sucesso dos esforços de imunização em grande escala como a atual, entre outras,  depende de uma rede de frio confiável. Isso significa contar com um sistema seguro para o armazenamento e transporte de vacinas, nas temperaturas recomendadas por seus fabricantes.

O monitoramento da temperatura inclui não somente o cuidado com o calor, mas também a prevenção do congelamento. Logo, manter a estabilidade térmica das vacinas no armazenamento e transporte delas é o ponto mais crítico.

4. Treinamento de equipe

Vacinas diferentes exigem condições distintas. Dessa maneira, todos os colaboradores encarregados de manusear as vacinas devem ser minuciosamente treinados em práticas seguras de armazenamento e transporte. E a informação é peça fundamental para o funcionamento da teia logística.

Os funcionários têm que ser preparados a partir dos Procedimentos Operacionais Padrão (POP’s). A padronização promove a qualidade dos produtos e a segurança de todos. De acordo com o Manual de Rede de Frio do Programa Nacional de Imunizações, são imprescindíveis por exemplo:

  • Recebimento, verificação, triagem e armazenamento de imunobiológicos
  • Preparo (organização e classificação dos imunobiológicos – Peps) e distribuição de imunobiológicos
  • Pedido periódico de imunobiológicos
  • Remanejamento de imunobiológicos
  • Plano de contingência de todos os equipamentos de refrigeração da planta, nos casos de falta de energia elétrica
  • Rotina de capacitação e treinamento do RH

5. Plano de contingência

Aqui falamos basicamente de processos. Para evitar o desperdício de vacinas no Brasil, as unidades de vacinação devem ter instruções claras, detalhadas e atualizadas para o manuseio dos imunizantes. Além disso, é crucial dispor de planos de contingência para emergências.

Imprevistos como o corte na energia elétrica, uma chuva intensa, falhas em equipamentos, enfim, tudo deve ser pensado no sentido de fornecer respostas completas a estas e outras situações.

Estruturação do serviço de vacinação

O farmacêutico Cassyano Correr, mestre em Ciências Farmacêuticas e doutor em Medicina Interna, apresentou, de forma resumida, 10 passos para estruturar o serviço de vacinação.

Passando por planejamento, pagamento de impostos e licenças sanitárias, a ideia do gráfico é mostrar como as farmácias podem evitar erros comuns na implantação do serviço de vacinação.

Gráfico 10 passos para estruturar serviço de vacinação
Fonte: Pharmacia Brasileira nº 92 | Julho/2021

 

Tecnologia e mudança de mentalidade

É inadmissível o Brasil viver como na década de 1950, quando começamos a produzir geladeiras em larga escala. E muito menos como em 1973, quando elas passaram a ser utilizadas (sim, naquela época eram as de uso doméstico) no programa de imunizações.

A crise sanitária mundial escancarou o que há muito precisava mudar. Dizem que as crises servem para isso: promover mudanças. Então, ela veio, e quem não souber se adequar aos novos tempos e à RDC 430 sofrerá os efeitos em vários sentidos.  

O desenvolvimento da tecnologia está trazendo um novo rumo, ajudando a reduzir o desperdício. Os sistemas de monitoramento evoluíram, assim como os registros, alertas, a segurança e a confiabilidade dos dados. Nosso mercado já consegue unir Inteligência Artificial, Internet das Coisas (IoT) e monitoramento da cadeia fria da Saúde.

A medição e o controle na armazenagem dos imunizantes que circulam no país estão mais precisos do que nunca. Porém, não basta reconhecer o papel importante da tecnologia, e, sim, usá-la com estratégia, seguindo as normas técnicas.

A mudança de mentalidade é imprescindível, uma vez que equipamentos, por mais inteligentes que sejam, não funcionam sem união de esforços. Ou seja, eles dependem da parceria entre ciência, tecnologia, lideranças políticas e empresas. Do contrário, é saúde indo para o lixo.

Está mais do que na hora de deixar o desperdício de vacinas no Brasil no (lamentável) passado, concorda? Ferramentas, informação, profissionais capacitados, empresas comprometidas e boas práticas não faltam.

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